Por Bárbaro Castro*
Na manhã do último domingo, 16, o Twitter amanheceu gritando #DanielExpulso. Assinantes do PayPerView do programa Big Brother Brasil assistiram, atônitos, a um dos participantes do programa realizar movimentos repetitivos debaixo do edredom usando o corpo de uma menina que dormia para satisfazer seus instintos sexuais. Sob o efeito do álcool da festa que acabara de terminar, Monique só se lembra de ter dado um beijo no rapaz. “Depois - disse quando interrogada pela produção - só me lembro de ter pedido pra ele parar, de dormir e de acordar com ele na outra cama”.
Daniel já havia bolinado outra participante, a Mayara, algumas noites antes. Obrigados a dividir a mesma cama porque o BBB tem um número menor de camas do que de participantes, Daniel se esfregou na “sister”, que o repeliu e o repreendeu. A produção não chamou sua atenção.
O que se seguiu à denúncia dos expectadores foi um circo de horrores. O diretor da atração, Boninho, iniciou uma operação abafa e retirou todos os vídeos da cena do suposto abuso do ar. No mesmo dia, chamou Monique ao confessionário e ela, confusa, questionou Daniel. “Não me lembro de ter feito nada”. Na mesma noite, durante a transmissão em TV aberta, a Globo tratou o caso como mais um dos romances fugazes que ocorrem na casa. E Pedro Bial, apresentador da atração, fez chacota “O amor é lindo”.
A Polícia Civil, o Ministério Público e a Secretaria das Mulheres entraram no caso, pedindo esclarecimentos à Globo. Patrocinadores pressionaram a rede de TV, preocupados em ter suas marcas vinculadas a um programa que reage mal a um gravíssimo caso de violência contra a mulher. A emissora voltou atrás e expulsou Daniel da casa. Não deu satisfações aos participantes (que mereceriam saber no que estão metidos e aos riscos aos quais foram submetidos) nem aos expectadores. Em poucos segundos, Bial anunciou que ele havia sido expulso por infringir os regulamentos do programa. Nenhuma palavra sobre o real e criminoso motivo. Nenhum esclarecimento ao grande público de que o comportamento condenável foi o fato de ele ter se aproveitado sexualmente de uma mulher inconsciente. Nos trataram como idiotas. Nos ensinaram que perante casos de violência contra a mulher, devemos nos calar, nos omitir e nos resignar. Não foi a primeira vez.
Violência contra a mulher só é notícia quando o resultado é morte, esquartejamento ou seqüestro. O comportamento da Globo perante as cenas que assistimos – ou que uma parcela da população assistiu, pouco importa – é condenável. Foram coniventes e falsificaram a verdade. Transformaram a violência em caso de amor, como fazem na novela das 21h, com os personagens Celeste e Baltazar. Transformaram a violência em piada, como fazem todos os sábados no quadro do Metrô, do programa Zorra Total. A culpa pelas cenas que assistimos e vivemos diariamente também é deles. A reprodução de valores machistas tem que acabar. O custo de tratar abuso com naturalidade é continuar a viver em uma sociedade em que é normal um garoto “se dar bem” usando um “Boa Noite Cinderela”. É continuar a viver em um mundo em que os homens não vêem limite entre meu corpo e o deles. É continuar a sofrer abusos diários em trens, metrôs e ônibus lotados. É sacramentar o ideário machista de que a culpa é da vítima.
Nas redes sociais, após o anúncio de Bial, alguns comemoraram que a “justiça” havia sido feita – como se a condenação criminal se esgotasse na expulsão de um reality show. Outros argumentavam que a menina havia gostado e tinha pedido, seja porque bebeu demais e isso não é comportamento de moça de família, seja porque usou roupas sensuais e isso é coisa de puta. Pouco espaço foi dado ao caso na mídia a não ser nas seções de celebridades e nos hotsites do BBB12. Destaco, em especial, os portais que enchem a boca para falar que são de esquerda, mas que se calaram, assim como a Globo, sobre o caso de violência sexual.
Como mulher me dói sobremaneira o tratamento de segunda classe que está sendo dado a este caso. Por elitismo intelectual, muitos argumentam que o que acontece no reality show não deve ser levado em conta, discutido, debatido. Só quem já viveu um abuso sabe a dor que é sentir essa violação. E isso não pode e não deve nunca ser diminuído. Não importa quem tenha sofrido a violência e em quais condições.
Daniel já havia bolinado outra participante, a Mayara, algumas noites antes. Obrigados a dividir a mesma cama porque o BBB tem um número menor de camas do que de participantes, Daniel se esfregou na “sister”, que o repeliu e o repreendeu. A produção não chamou sua atenção.
O que se seguiu à denúncia dos expectadores foi um circo de horrores. O diretor da atração, Boninho, iniciou uma operação abafa e retirou todos os vídeos da cena do suposto abuso do ar. No mesmo dia, chamou Monique ao confessionário e ela, confusa, questionou Daniel. “Não me lembro de ter feito nada”. Na mesma noite, durante a transmissão em TV aberta, a Globo tratou o caso como mais um dos romances fugazes que ocorrem na casa. E Pedro Bial, apresentador da atração, fez chacota “O amor é lindo”.
A Polícia Civil, o Ministério Público e a Secretaria das Mulheres entraram no caso, pedindo esclarecimentos à Globo. Patrocinadores pressionaram a rede de TV, preocupados em ter suas marcas vinculadas a um programa que reage mal a um gravíssimo caso de violência contra a mulher. A emissora voltou atrás e expulsou Daniel da casa. Não deu satisfações aos participantes (que mereceriam saber no que estão metidos e aos riscos aos quais foram submetidos) nem aos expectadores. Em poucos segundos, Bial anunciou que ele havia sido expulso por infringir os regulamentos do programa. Nenhuma palavra sobre o real e criminoso motivo. Nenhum esclarecimento ao grande público de que o comportamento condenável foi o fato de ele ter se aproveitado sexualmente de uma mulher inconsciente. Nos trataram como idiotas. Nos ensinaram que perante casos de violência contra a mulher, devemos nos calar, nos omitir e nos resignar. Não foi a primeira vez.
Violência contra a mulher só é notícia quando o resultado é morte, esquartejamento ou seqüestro. O comportamento da Globo perante as cenas que assistimos – ou que uma parcela da população assistiu, pouco importa – é condenável. Foram coniventes e falsificaram a verdade. Transformaram a violência em caso de amor, como fazem na novela das 21h, com os personagens Celeste e Baltazar. Transformaram a violência em piada, como fazem todos os sábados no quadro do Metrô, do programa Zorra Total. A culpa pelas cenas que assistimos e vivemos diariamente também é deles. A reprodução de valores machistas tem que acabar. O custo de tratar abuso com naturalidade é continuar a viver em uma sociedade em que é normal um garoto “se dar bem” usando um “Boa Noite Cinderela”. É continuar a viver em um mundo em que os homens não vêem limite entre meu corpo e o deles. É continuar a sofrer abusos diários em trens, metrôs e ônibus lotados. É sacramentar o ideário machista de que a culpa é da vítima.
Nas redes sociais, após o anúncio de Bial, alguns comemoraram que a “justiça” havia sido feita – como se a condenação criminal se esgotasse na expulsão de um reality show. Outros argumentavam que a menina havia gostado e tinha pedido, seja porque bebeu demais e isso não é comportamento de moça de família, seja porque usou roupas sensuais e isso é coisa de puta. Pouco espaço foi dado ao caso na mídia a não ser nas seções de celebridades e nos hotsites do BBB12. Destaco, em especial, os portais que enchem a boca para falar que são de esquerda, mas que se calaram, assim como a Globo, sobre o caso de violência sexual.
Como mulher me dói sobremaneira o tratamento de segunda classe que está sendo dado a este caso. Por elitismo intelectual, muitos argumentam que o que acontece no reality show não deve ser levado em conta, discutido, debatido. Só quem já viveu um abuso sabe a dor que é sentir essa violação. E isso não pode e não deve nunca ser diminuído. Não importa quem tenha sofrido a violência e em quais condições.
* Bárbara Castro é Doutoranda em Ciências Sociais. bacastro@gmail.com
Me sinto contemplada por todas as linhas!
ResponderExcluireu tbm
ResponderExcluir:)