NOTA DE REPÚDIO À NEGOCIAÇÃO ENTRE ESTUDANTES E REITORIA DA UNICAMP INTERMEDIADA PELA PM
No dia 17/03/2011, última quinta-feira, a Polícia Militar se dirigiu à Ocupação da Administração da Moradia com a seguinte proposta: que estudantes e Reitoria da Unicamp fizessem uma negociação mediada pela PM. No dia seguinte, dia 18, obtivemos maiores informações sobre como será esta negociação: ela ocorrerá nesta segunda-feira, dia 21, no 8° Batalhão da Polícia Militar de Campinas e tratará tão somente do processo de reintegração de posse da Administração da Moradia, independentemente da presença dos estudantes. Portanto: não há espaço nesta negociação para discussão de nossas pautas.
Vale lembrar que, no dia 03/03/2011, a Administração da Moradia da Unicamp foi ocupada por estudantes com três pautas principais: 1) aumento de número de vagas na moradia estudantil; 2) reestruturação da administração da Moradia, com ampla participação dos moradores; 3) que a polícia não entre no Campus e na Moradia para dissipar manifestações da comunidade universitária.
Estas reivindicações se fazem prementes dado que, na ocasião da luta pela construção de Moradias Estudantis na Unicamp em 1987, o “Movimento Taba”, o DCE-Unicamp e a Reitoria consideraram a necessidade de um mínimo de 1.500 vagas, correspondente a 10% do total de alunos à época. Hoje, o total de alunos matriculados da Unicamp mais que dobrou (32.772 estudantes, segundo anuário de 2010) e existem menos de 1.000 vagas, configurando superlotação.
Quanto à administração da moradia, suas gestões têm se revelado autoritárias por não respeitar a instância soberana de decisões, o Conselho Deliberativo, resultando problemas colaterais graves: centralização da gestão; prejuízo das tarefas básicas de manutenção e saneamento; não cumprimento das demandas de convívio previstas no projeto original do PME e reivindicadas pelos moradores, tais como a utilização dos Centros de Vivência para projetos comunitários; a tentativa de expulsão de vários moradores, incluindo famílias com crianças maiores de sete anos, estrangeiros, estudantes “não oficiais” (vale considerar que, aqui, se incluem todos aqueles que foram deferidos, mas não tiveram suas vagas regularizadas) e moradores que os acolhem; além da invasão de privacidade nas rotineiras práticas de vigilância que transformam funcionários em espiões dos moradores, observando e registrando tudo e todos.
É preciso considerar que essa forma de gestão não é exclusividade do atual coordenador, mas de um modelo de administração executada na distância da realidade vivida. Se uma gestão da moradia não é feita pelos próprios moradores (como todo síndico de prédio), nem mesmo eleita por eles (como orienta os princípios de qualquer governança democrática), é possível deduzir os níveis de autoritarismo, constrangimentos e “imprecisões” administrativas que se podem produzir no governo de um homem só, alheio ao Conselho Deliberativo. Com esse tipo de administração, acionar a PM para “mediar” conflitos apenas se constitui como uma consequência natural.
Desse modo, consideramos que a presença da Polícia Militar na Moradia da Unicamp seja a tentativa mais audaciosa da Reitoria em escapar do problema de fundo: a demanda crescente por vagas, ocultada sistematicamente, como foi possível ler no boletim oficial “Note bem”.
No dia 10/03/2011, procurados pela comissão de negociação do Movimento Novos Tabanos, o pró-reitor de Graduação, Prof. Marcelo Knobel, e o chefe de gabinete do reitor, Prof. José Ranali, se recusaram a negociar as pautas do movimento, alegando não haver problemas de vagas, se comprometendo a entregar uma compilação de documentos que comprovaria esta afirmação até a manhã do dia seguinte, dia 11. Sete dias mais tarde, dia 17/03/2011, o Movimento Novos Tabanos entrou em contato pela quinta vez com a pró-reitoria para cobrar o estudo, mas ele ainda não foi apresentado. Por que será que uma Universidade com excelência em pesquisa não consegue apresentar uma análise como essa? Não seria por falta de profissionais capazes. A conclusão a que chegamos é que, portanto, a realidade concreta não permite que este estudo exista. Da realidade concreta, a Reitoria se limitou a apresentar apenas a ameaça das futuras retaliações aos alunos que participam do movimento.
Diante da proposta de que negociemos, estudantes e Reitoria, no Batalhão Militar, sob intermédio da PM, afirmamos o nosso repúdio, pois este tipo de proposta absurda tem um nome: Ditadura Militar!
Exigimos que a Reitoria trate dos problemas da Universidade, especialmente da permanência estudantil, diretamente com os estudantes!
Queremos negociação das pautas do movimento imediatamente!
Não podemos admitir que as Universidades Estaduais Paulistas continuem tratando o movimento estudantil como caso de polícia!
Movimento Novos Tabanos
Ocupação da Administração da Moradia
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