sábado, 18 de fevereiro de 2012

quero café da manhã...

quero café da manhã


na beira da minha cama

quero toalhas floridas

quero torradas e manteiga

fresca

o leite não derramado

não quero o sangue coalhado

não quero a santa miséria

e todos os seus sub-produtos

desfilando encrespada

no diário matinal



quero que o morro seja verde só

de matos e árvores altas

que seja um bom paradeiro

para nuvens escuras



quero ser menos gentil

não quero ser cordial

com quem me alimenta de fel e veneno



as armas estão carregadas

armadas na mão de meninos

agora nutridos pelos santos bandidos do morro



um vintêm só minha tia

dois real meu patrão

a carteira

a bolsa

desce do carro playboy

que é isso leva aí

duas pedrinha só

olha os homi subindo

esse mês tirei uma TV de 42



o suor de meu pai

escorrendo de graça

pelas latrinas

a alienação de minha mãe

pós-doutora em telenovelas

o deputado impune

a puta na esquina

a cachaça de graça

a especulação financeira

a respeito deste poema

o microondas queimando mais um rato numa viela qualquer

as igrejas lotadas de fiéis comovidos com a caridade

os televisores ligados

à frente de milhares de cabeças que

desistiram de tentar pensar

são subprodutos da miséria

que cresce, que se reproduz

na exata proporção de olhos que

fecham-se para não vê-la

e de neurônios que torram

movidos pelo dispositivo automático

autoregulador, autoendossador

automasturbador, autometiculador

autoremovedor, autodesenvolvedor, automobilizador

autopandecísta, autodeletador, autoconvencedor, autodesligador escondido bem no fundo do nosso cú ou de algum lugar a que não nos atrevemos mexer dado monte de bostas que temos tido dificuldades em deixar de ser.

(poema do Jeison Heiler; o blog dele é  http://verborragio.blogspot.com/)

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