quero café da manhã
na beira da minha cama
quero toalhas floridas
quero torradas e manteiga
fresca
o leite não derramado
não quero o sangue coalhado
não quero a santa miséria
e todos os seus sub-produtos
desfilando encrespada
no diário matinal
quero que o morro seja verde só
de matos e árvores altas
que seja um bom paradeiro
para nuvens escuras
quero ser menos gentil
não quero ser cordial
com quem me alimenta de fel e veneno
as armas estão carregadas
armadas na mão de meninos
agora nutridos pelos santos bandidos do morro
um vintêm só minha tia
dois real meu patrão
a carteira
a bolsa
desce do carro playboy
que é isso leva aí
duas pedrinha só
olha os homi subindo
esse mês tirei uma TV de 42
o suor de meu pai
escorrendo de graça
pelas latrinas
a alienação de minha mãe
pós-doutora em telenovelas
o deputado impune
a puta na esquina
a cachaça de graça
a especulação financeira
a respeito deste poema
o microondas queimando mais um rato numa viela qualquer
as igrejas lotadas de fiéis comovidos com a caridade
os televisores ligados
à frente de milhares de cabeças que
desistiram de tentar pensar
são subprodutos da miséria
que cresce, que se reproduz
na exata proporção de olhos que
fecham-se para não vê-la
e de neurônios que torram
movidos pelo dispositivo automático
autoregulador, autoendossador
automasturbador, autometiculador
autoremovedor, autodesenvolvedor, automobilizador
autopandecísta, autodeletador, autoconvencedor, autodesligador escondido bem no fundo do nosso cú ou de algum lugar a que não nos atrevemos mexer dado monte de bostas que temos tido dificuldades em deixar de ser.
(poema do Jeison Heiler; o blog dele é http://verborragio.blogspot.com/)
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