Essas comparações tão insistentes entre o Alckimin e o Hitler servem pra construir uma sensibilidade, mas não ajudam na compreensão das coisas... Se bem que ajudam a construir a sensibilidade de quem? De quem já tem a imagem de Hitler associada a do diabo. O que quero dizer não é que "o Alckimin não é tão mau assim". A questão não é o grau de maldade (talvez a questão não seja a maldade). Se a intenção de uma charge é ser política, divulgar coisas que a imprensa burguesa oculta, contribuir com a mobilização dos mais diretamente atingidos, seria interessante que ela contribuísse para a compreensão. As tirinhas do Latuff e do Ricardo Coimbra, são capazes disso (a alusão ao nazismo feita pelo Latuff se justifica, está associada a elementos diretamente envolvidos no caso Pinheirinhos). Ou a compreensão das coisas - já admitindo a diversidade das formas de compreensão possíveis - é um privilégio de classe que o chargista engajado guarda para si? Então, eu tenho uma distinção das coisas mas na hora de expressar publicamente uma visão, me coloco no papel de insulflar as massas? Misturo Hitler, Alckimin e diabo pra ajudar a mobilização dos trabalhadores? Os instrumentos da ideologia dominante funcionam de uma forma muito parecida...
Legal, normalmente não responderia uma colocação dessas. Mas o João me mandou um email pedindo pr'eu dizer algo sobre essa charge que criei. Poderia responder só por email, mas acho mais bacana entrar na discussão. Arthur vou falar sinceramente, e tentar não cair em provocações (na minha visão, este blog não esta aqui pra isso). Como cartunista e como artista de outras formas de arte, eu não funciono tão racionalmente assim. Desenho sobre o que eu sinto e me expresso da forma que consigo. Não tenho pretensão de ser um Latuff (e nem desempenhar o papel de militância que ele desempenha), porque não sei produzir assim.
Mais sincero impossível: não fiz essa charge pra auxiliar na mobilização dos trabalhadores! Isso não quer dizer, também, que sou contra a sua mobilização! Só não tenho essa pretensão e não sou esse cara que consegue fazer isso. Sou um cartunista menor que trabalha pela chave dos meus sentimentos.
E é isso, de uma situação absurda (situação da USP em 2011), eu criei um personagem (governador capeta), pra refletir um sentimento. Mantive o personagem e fiz mais esta charge sobre o máximo do absurdo da existência do personagem (o que para o personagem faria sentido numa ação de um governador real ao qual ele se espelha, e é uma cópia barata).
"Ou a compreensão das coisas - já admitindo a diversidade das formas de compreensão possíveis - é um privilégio de classe que o chargista engajado guarda para si?" Confesso que não entendi muito bem essa provocação. E também, eu não me coloco no papel de insuflar massa nenhuma. Se fosse pra ser assim eu não seria cartunista independente, eu procuraria formas mais eficazes disso.
Não tenho essa pretensão sociológica nos quadrinhos! Não tente achar pelo nos meus ovos!
Justin, na verdade, relendo o que escrevi, to percebendo que usei um tom meio agressivo e fiz colocações desproporcionais. Não tenho nenhuma intenção de te provocar e acho que você tem uma participação importante na Miséria.
Mas mantenho algumas críticas. 1- Acho que a arte pode ser a forma como você expressa o que sente, mas isso não significa que ela não traz posicionamentos políticos. Agente pensa e se posiciona ao mesmo tempo em que sente as coisas.
2- O fato da charge não ter o objetivo de mobilizar trabalhadores não significa que ela não os atinja. Será que nenhum trabalhador lê o blog da Miséria?
4- Por essas duas razões acima é que acho que, apesar de tudo, algumas simplificações podem prejudicar mais que ajudar. Nada é inocente. (são clichês, vc sabe..)
3- Talvez entrando em outra discussão agora: os acontecimentos da usp e do Pinheirinhos são mesmo situações absurdas? Absurdas no sentido de excepcionalmente estranhas, como coisas feitas pelo diabo? Não são. São opressões que combinam bem com a lógica do poder e do capital. O governador absurdo não precisa ser capeta, ele é democraticamente eleito.
Acho que já fui longe demais, de novo. Não consigo deixar de ver pelos em ovos. desculpa qualquer coisa abraço
Ae, Arthur, estamos em pazes então.. hehe. Mas pensando agora, sua colação foi ótima pra despertar certas coisas realmente necessárias pra se produzir. Em qualquer situação e em qualquer momento hiXtórico. E críticas, são sempre bem vindas. Sobre o pelo no ovo, foi uma frase de efeito no calor do momento. Todo mundo tem direito de achar pelo no ovo de todo mundo!
Das suas críticas: Não excluo meus posicionamentos políticos, não teria sentido. Quis dizer que produzo expondo meus sentimentos daquilo que eu vejo no mundo e que se reflete no meu posicionamento político. Só não consigo produzir tão objetivamente (com um intuito objetivo-militante). Quando disse que ela não tinha o objetivo, também não penso que não o teria mesmo sem intenção. Só que eu, de verdade, não levei em consideração.
Agora a explicação: o Governador Capeta é muito inspirado no "Caboclo Mamadô" do Henfil. Onde o Henfil enterrava personalidades artísticas e da politica por apoiarem a ditadura. E gerou grandes controvérsias, como quando ele enterrou a Elis por ter cantado numa cerimônia do regime militar. Meu objetivo desde o começo era causar, assim como o Henfil (dada as devidas proporções de talento), e esculachar um cabra que eu acho nojento. A ideia era fazer isso através da piada. Acho que as tiras anteriores conseguiram isso. Talvez por ele nunca ter voz, e só a ação de mandar a choque bater. Assumo que este não foi um dos melhores trabalhos do gov. Capeta.
Mas a ideia geral seria, esculachar o homem pra chamar a atenção pro todo. É cartum, se trabalha com símbolos, não tem como. As vezes eles são mais eficazes, noutras não.
É isso ae, Vamo trocando ideia, é importante. Abrass
Essas comparações tão insistentes entre o Alckimin e o Hitler servem pra construir uma sensibilidade, mas não ajudam na compreensão das coisas...
ResponderExcluirSe bem que ajudam a construir a sensibilidade de quem? De quem já tem a imagem de Hitler associada a do diabo.
O que quero dizer não é que "o Alckimin não é tão mau assim". A questão não é o grau de maldade (talvez a questão não seja a maldade).
Se a intenção de uma charge é ser política, divulgar coisas que a imprensa burguesa oculta, contribuir com a mobilização dos mais diretamente atingidos, seria interessante que ela contribuísse para a compreensão. As tirinhas do Latuff e do Ricardo Coimbra, são capazes disso (a alusão ao nazismo feita pelo Latuff se justifica, está associada a elementos diretamente envolvidos no caso Pinheirinhos).
Ou a compreensão das coisas - já admitindo a diversidade das formas de compreensão possíveis - é um privilégio de classe que o chargista engajado guarda para si?
Então, eu tenho uma distinção das coisas mas na hora de expressar publicamente uma visão, me coloco no papel de insulflar as massas? Misturo Hitler, Alckimin e diabo pra ajudar a mobilização dos trabalhadores? Os instrumentos da ideologia dominante funcionam de uma forma muito parecida...
Legal, normalmente não responderia uma colocação dessas. Mas o João me mandou um email pedindo pr'eu dizer algo sobre essa charge que criei. Poderia responder só por email, mas acho mais bacana entrar na discussão. Arthur vou falar sinceramente, e tentar não cair em provocações (na minha visão, este blog não esta aqui pra isso).
ResponderExcluirComo cartunista e como artista de outras formas de arte, eu não funciono tão racionalmente assim. Desenho sobre o que eu sinto e me expresso da forma que consigo. Não tenho pretensão de ser um Latuff (e nem desempenhar o papel de militância que ele desempenha), porque não sei produzir assim.
Mais sincero impossível: não fiz essa charge pra auxiliar na mobilização dos trabalhadores! Isso não quer dizer, também, que sou contra a sua mobilização! Só não tenho essa pretensão e não sou esse cara que consegue fazer isso. Sou um cartunista menor que trabalha pela chave dos meus sentimentos.
E é isso, de uma situação absurda (situação da USP em 2011), eu criei um personagem (governador capeta), pra refletir um sentimento. Mantive o personagem e fiz mais esta charge sobre o máximo do absurdo da existência do personagem (o que para o personagem faria sentido numa ação de um governador real ao qual ele se espelha, e é uma cópia barata).
"Ou a compreensão das coisas - já admitindo a diversidade das formas de compreensão possíveis - é um privilégio de classe que o chargista engajado guarda para si?"
Confesso que não entendi muito bem essa provocação. E também, eu não me coloco no papel de insuflar massa nenhuma. Se fosse pra ser assim eu não seria cartunista independente, eu procuraria formas mais eficazes disso.
Não tenho essa pretensão sociológica nos quadrinhos!
Não tente achar pelo nos meus ovos!
Um beijo
Brigado por comentar.
Renan
Sobre esse debate - que vai muito além da tentativa de um cartunista individual de insuflar as massas - dois textos merecem ser lidos ou relidos:
ResponderExcluirPinheirinho: quem apanha lembra, do Latuff
http://www.twitlonger.com/show/fi6k5e
e esse do arthur, de 6 de janeiro, do blog re-escrita de tudo:
http://reescritadetudo.blogspot.com/2012/01/construcao-da-imagem-de-hitler-por.html
Justin, na verdade, relendo o que escrevi, to percebendo que usei um tom meio agressivo e fiz colocações desproporcionais. Não tenho nenhuma intenção de te provocar e acho que você tem uma participação importante na Miséria.
ResponderExcluirMas mantenho algumas críticas.
1- Acho que a arte pode ser a forma como você expressa o que sente, mas isso não significa que ela não traz posicionamentos políticos. Agente pensa e se posiciona ao mesmo tempo em que sente as coisas.
2- O fato da charge não ter o objetivo de mobilizar trabalhadores não significa que ela não os atinja. Será que nenhum trabalhador lê o blog da Miséria?
4- Por essas duas razões acima é que acho que, apesar de tudo, algumas simplificações podem prejudicar mais que ajudar. Nada é inocente. (são clichês, vc sabe..)
3- Talvez entrando em outra discussão agora: os acontecimentos da usp e do Pinheirinhos são mesmo situações absurdas? Absurdas no sentido de excepcionalmente estranhas, como coisas feitas pelo diabo? Não são. São opressões que combinam bem com a lógica do poder e do capital. O governador absurdo não precisa ser capeta, ele é democraticamente eleito.
Acho que já fui longe demais, de novo. Não consigo deixar de ver pelos em ovos.
desculpa qualquer coisa
abraço
Ae, Arthur, estamos em pazes então.. hehe.
ResponderExcluirMas pensando agora, sua colação foi ótima pra despertar certas coisas realmente necessárias pra se produzir. Em qualquer situação e em qualquer momento hiXtórico. E críticas, são sempre bem vindas. Sobre o pelo no ovo, foi uma frase de efeito no calor do momento. Todo mundo tem direito de achar pelo no ovo de todo mundo!
Das suas críticas: Não excluo meus posicionamentos políticos, não teria sentido. Quis dizer que produzo expondo meus sentimentos daquilo que eu vejo no mundo e que se reflete no meu posicionamento político. Só não consigo produzir tão objetivamente (com um intuito objetivo-militante).
Quando disse que ela não tinha o objetivo, também não penso que não o teria mesmo sem intenção. Só que eu, de verdade, não levei em consideração.
Agora a explicação: o Governador Capeta é muito inspirado no "Caboclo Mamadô" do Henfil. Onde o Henfil enterrava personalidades artísticas e da politica por apoiarem a ditadura. E gerou grandes controvérsias, como quando ele enterrou a Elis por ter cantado numa cerimônia do regime militar.
Meu objetivo desde o começo era causar, assim como o Henfil (dada as devidas proporções de talento), e esculachar um cabra que eu acho nojento. A ideia era fazer isso através da piada. Acho que as tiras anteriores conseguiram isso. Talvez por ele nunca ter voz, e só a ação de mandar a choque bater. Assumo que este não foi um dos melhores trabalhos do gov. Capeta.
Mas a ideia geral seria, esculachar o homem pra chamar a atenção pro todo. É cartum, se trabalha com símbolos, não tem como. As vezes eles são mais eficazes, noutras não.
É isso ae,
Vamo trocando ideia, é importante.
Abrass
Renan